Monday, September 24

Ela trazia um ramo de flores. Eu disse-lhe que não tinha sequer flores para lhe dar, só lhe vinha pedir algo, um autógrafo. Ela perguntou-me se eu estava a falar a sério. De casarmos, perguntei. (...) Entregou-me o disco assinado e não quis que o lesse. Guarda-o. Lê-o em segredo. Abraçou-me longamente como se nos amassemos e nos tivéssemos que despedir. Ofereceu-me uma flor, pediu-me que não desaparecesse da sua vida, que haveria sempre de precisar de mim, angustiada que estava com todos os homens do mundo.

Eu e a Chan Marshall não somos amigos, e não nos falamos ou vimos nunca mais. Mas tenho uma mensagem muito íntima no seu último disco. Não vos vou dizer qual é, escusam de estar à espera disso, digo-vos apenas que a flor já secou mas o perfume é como se estivesse tão intenso como no primeiro dia. São estas coisas estranhas que nos explicam que a vida tem mais para além e para aquém do que estamos a ver.



Creio começar a perceber melhor como funciona a cabeça dos realizadores de cinema: eles sabem que o real não é uno, que se compõe de infinitos fragmentos, que nos olha com o olho de mil vezes facetado da mosca, e então procedem segundo regras que parecem ter muito de aleatório, escolhendo, alternando, justapondo, constantemente oscilando entre a exigência de uma razão organizadora e a fascinação do caos.

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