(Danças)
everything (is never quite enough) - Wasis Diop

Prefiro olhar sobre o dorso do mar, à procura da outra margem.
Adiante.
Gostaria de pintar-te com uns óleos ainda mais cor de terra. Deixa colocar-te no colo a toalha de bordar, e sentar-te à soleira da porta, no refugio a que pertences. Na viagem dos teus dedos silenciosos sobre o pano de linho, em mar mais salgado que o do poeta, embarco clandestino. Procuro-te na cerração das madrugadas húmidas, por entre a duna que te escondia os beijos. Ando no teu alcance por meio da alegria virgem de ranchos e salas vazias. Sigo os teus pés na onda negra dos véus de promessas. Desço contigo a rocha. E sou o mar que te abraça os joelhos, tremendo de tanta liberdade. E seu que irei perder-te, mais tarde. Houve festa na rua. Mais uma vez te vestiste de noiva. E um sorriso estrangeiro tomou conta do teu destino. Eu também parti. Não deste pela minha ausência porque fui sempre embarcadiça. Cresci desconhecida. Para sempre fiquei com esta dor de alma de saber que, lado a lado, caminhámos desencontrados. Deixa-me pintar-te com as cores, sinais da última festa que te aliviou o luto...
Dança.
Leva-me ao sudeste que se esquivava.
Quedei-me, a pensar que deveria ser eterna esta melopeia. Olhei-os outra vez. Eram como sombras a falar em círculo. As vozes do mar, do homem, do vento foram certamente criadas antes do tempo ser objecto de medida. E, se me perguntarem onde tal criação terá acontecido, não vejo melhor lugar que uma ilha: continuas a dançar. Eu segui. Até que os olhos encontraram os meus.
Com a ternura silenciosa de criança, não dizíamos nada um ao outro. A mim nunca me ocorria a palavra certa a condizer com o nosso pequeno universo. E para quê contar mais? Eu fui crescendo entre livros e dúvidas. Eram tardes infinitas. Entrava com o renovar das esperanças, na lengalenga das repetições. Recupero o diálogo: estás por ali a dançar nas areias.
E desta vez foram os meus olhos que se lançaram à procura dos seus. Eu sabia. Tu não me conheces totalmente por dentro, mas desconfias. Espera. Deixa-me saborear esta dentada de rocha e mar. Espera, porque serás difinitivamente o meu confessor de pés descalços? As nossas palavras irão banhar-se enquanto a ilha for: continua a dançar e sub-carregas o horizonte ali do fundo, como noite veronil. E será verosímil chorar diante de ti. Vai acontecer, agora que aqui estamos neste desassossego de noite.
Propositado silêncio.
Tenho de interromper-te. Querias então ultrapassar-me? Não podes atrever-te a iniciar a viagem primeiro do que eu. Não faz mal... As lágrimas de dia não têm cor e, à noite, ninguém as vê. Dançamos.
Os portais da minha memória fecharam-se, pungentes, sobre a tua imagem. Em cerimónia que preparei especialmente para ti, vou rezar conchas de praia, pedrinhas redondas a saltitar sobre as ondas, musgo verde no fundo de um cestinho de asa. (E continuas ali, em movimentos dispersos). O mar e a gente acomodados no meio do mundo. Dança, move-te, sedus-me, não pares.

Prefiro olhar sobre o dorso do mar, à procura da outra margem.
Adiante.
Gostaria de pintar-te com uns óleos ainda mais cor de terra. Deixa colocar-te no colo a toalha de bordar, e sentar-te à soleira da porta, no refugio a que pertences. Na viagem dos teus dedos silenciosos sobre o pano de linho, em mar mais salgado que o do poeta, embarco clandestino. Procuro-te na cerração das madrugadas húmidas, por entre a duna que te escondia os beijos. Ando no teu alcance por meio da alegria virgem de ranchos e salas vazias. Sigo os teus pés na onda negra dos véus de promessas. Desço contigo a rocha. E sou o mar que te abraça os joelhos, tremendo de tanta liberdade. E seu que irei perder-te, mais tarde. Houve festa na rua. Mais uma vez te vestiste de noiva. E um sorriso estrangeiro tomou conta do teu destino. Eu também parti. Não deste pela minha ausência porque fui sempre embarcadiça. Cresci desconhecida. Para sempre fiquei com esta dor de alma de saber que, lado a lado, caminhámos desencontrados. Deixa-me pintar-te com as cores, sinais da última festa que te aliviou o luto...
Dança.
Leva-me ao sudeste que se esquivava.
Quedei-me, a pensar que deveria ser eterna esta melopeia. Olhei-os outra vez. Eram como sombras a falar em círculo. As vozes do mar, do homem, do vento foram certamente criadas antes do tempo ser objecto de medida. E, se me perguntarem onde tal criação terá acontecido, não vejo melhor lugar que uma ilha: continuas a dançar. Eu segui. Até que os olhos encontraram os meus.
Com a ternura silenciosa de criança, não dizíamos nada um ao outro. A mim nunca me ocorria a palavra certa a condizer com o nosso pequeno universo. E para quê contar mais? Eu fui crescendo entre livros e dúvidas. Eram tardes infinitas. Entrava com o renovar das esperanças, na lengalenga das repetições. Recupero o diálogo: estás por ali a dançar nas areias.
E desta vez foram os meus olhos que se lançaram à procura dos seus. Eu sabia. Tu não me conheces totalmente por dentro, mas desconfias. Espera. Deixa-me saborear esta dentada de rocha e mar. Espera, porque serás difinitivamente o meu confessor de pés descalços? As nossas palavras irão banhar-se enquanto a ilha for: continua a dançar e sub-carregas o horizonte ali do fundo, como noite veronil. E será verosímil chorar diante de ti. Vai acontecer, agora que aqui estamos neste desassossego de noite.
Propositado silêncio.
Tenho de interromper-te. Querias então ultrapassar-me? Não podes atrever-te a iniciar a viagem primeiro do que eu. Não faz mal... As lágrimas de dia não têm cor e, à noite, ninguém as vê. Dançamos.
Os portais da minha memória fecharam-se, pungentes, sobre a tua imagem. Em cerimónia que preparei especialmente para ti, vou rezar conchas de praia, pedrinhas redondas a saltitar sobre as ondas, musgo verde no fundo de um cestinho de asa. (E continuas ali, em movimentos dispersos). O mar e a gente acomodados no meio do mundo. Dança, move-te, sedus-me, não pares.
10 Teardrops:
É inexplicável o meu fascínio por ti... Pior, é bem explicável.
estou aqui para ti.
...hello, surfaart gal...
MUITO RÁPIDO, PORQUE NÃO TENHO HOJE TEMPO PARA COMENTAR COMO GOSTARIA O TEU POST. DE FACTO TU EXERCES MESMO UM FASCÍNIO SOBRE NÓS...
Belíssimamente escrito, imagens de antologia. Um beijo
E cá estou eu de novo! Difícil comentar este teu post, por isso só direi que me tocou profundamente: desde as metáforas referentes a pintura: cor de terra... como toda a descrição da figura "dançante" que evoca memórias, desperta desejos. Frases como: as lágrimas de dia não têm cor..."Vou rezar conchas de praia, pedrinhas redondas....", são imagens muito bonitas. Parabéns, Catarina.
contagiante o sentido destas palavras
"As lágrimas de dia não têm cor e, à noite, ninguém as vê.", o teu 'dançar' surpreendeu..
Propositado silêncio.
lindo!!!
um beijo
E continuo sem saber o que fazer... e continuo sem saber o que pensar... e continuo sem saber o que dizer...
Fecho-me no meu mundo, como tu o fazes as vezes, lembraste?
Ficas quieta no teu pensamento. Ficas imune aos deslumbramentos da vida. Ficas calada e pouco fazes para te exaltares.
E eu... aqui. No mundo perdido, sem ti.
Caminho por sítios já procurados, caminhos pelo mar, os meus pés na areia, os meus olhos na lua que me guia até ao infinito. Aquela praia… aquele Verão, aquele ano... O teu perfume...o teu cheiro... O teu "Davidoff" de dia e noite... a água salgada, o creme posto na cara... Estes dias, meses, ano... O agora.
O meu pensamento em ti. O meu pensamento em nós. A melancolia apodera-se de mim, devido a músicas já ouvidas em tempos de amor e paixão, em tempos de felicidade. E agora só rezo para q voltes para mim. Para que tudo seja como dantes. Como antigamente. Como nos éramos "crianças inocentes", que talvez nem sabíamos o significado da palavra amor. Mas será q tudo aquilo q eu digo faz sentido? Não me estarei a contradizer? E as palavras antigas, permanecem ou esquecem-se? "Lost without a trace".
Fico horas... e horas à tua procura. À procura de um sinal teu. Perco-me no sentidos dos teus olhos e sinistramente penso q tudo foi em vão. Mas não... não.
E tu q estás aí, perdida. Sentida. Pensas em mim? Pensas no meu abraço? No meu encosto? No meu... beijo?
O que é q faço sem te ter ao meu lado? As conversas? Os momentos?... Não consigo aceitar a tua decisão. Não quero o afastamento. Nós podemos resolver isto. Podemos resolver a nossa vida. Sim, nós temos uma vida, uma história, uma eternidade... volta para mim, meu amor. Quero-te encontrar, quero-te abraçar, quero-te... amar. Volta para mim. Fica em mim só pelo menos uma última vez. Não me deixes cair no abismo, não me deixes tropeçar nos meus pensamentos sem esperança. Agarra-me. Diz-me q me amas. Diz-me que sou a pessoa com quem sempre sonhaste. Diz-me q sou "a tua vida", "o teu amor", "o teu para sempre".
Diz-me q nunca te irás esquecer de mim...
Esquecer de nós.
De tudo aquilo q somos, de tudo aquilo q fomos...e de tudo aquilo q seremos.
A lágrima salgada cai.
Ama-me, uma última vez.
Sininho
E continuo sem saber o que fazer... e continuo sem saber o que pensar... e continuo sem saber o que dizer...
Fecho-me no meu mundo, como tu o fazes as vezes, lembraste?
Ficas quieta no teu pensamento. Ficas imune aos deslumbramentos da vida. Ficas calada e pouco fazes para te exaltares.
E eu... aqui. No mundo perdido, sem ti.
Caminho por sítios já procurados, caminhos pelo mar, os meus pés na areia, os meus olhos na lua que me guia até ao infinito. Aquela praia… aquele Verão, aquele ano... O teu perfume, o teu cheiro... O teu "Davidoff" de dia e de noite... A água salgada, o creme posto na cara... Estes dias, meses, ano... O agora.
O meu pensamento em ti. O meu pensamento em nós. A melancolia apodera-se de mim, devido a músicas já ouvidas em tempos de amor e paixão, em tempos de felicidade. E agora só rezo para q voltes para mim. Para que tudo seja como dantes. Como antigamente. Como nos éramos "crianças inocentes", que talvez nem sabíamos o significado da palavra amor. Mas será q tudo aquilo q eu digo faz sentido? Não me estarei a contradizer? E as palavras antigas, permanecem ou esquecem-se? "Lost without a trace".
Fico horas... e horas à tua procura. À procura de um sinal teu. Perco-me no sentidos dos teus olhos e sinistramente penso q tudo foi em vão. Mas não... não.
E tu q estás aí, perdida. Sentida. Pensas em mim? Pensas no meu abraço? No meu encosto? No meu... beijo?
O que é q faço sem te ter ao meu lado? As conversas? Os momentos?... Não consigo aceitar a tua decisão. Não quero o afastamento. Nós podemos resolver isto. Podemos resolver a nossa vida. Sim, nós temos uma vida, uma história, uma eternidade... volta para mim, meu amor. Quero-te encontrar, quero-te abraçar, quero-te... amar. Volta para mim. Fica em mim só pelo menos uma última vez. Não me deixes cair no abismo, não me deixes tropeçar nos meus pensamentos sem esperança. Agarra-me. Diz-me q me amas. Diz-me que sou a pessoa com quem sempre sonhaste. Diz-me q sou "a tua vida", "o teu amor", "o teu para sempre".
Diz-me q nunca te irás esquecer de mim...
Esquecer de nós.
De tudo aquilo q somos, de tudo aquilo q fomos...e de tudo aquilo q seremos.
A lágrima salgada cai.
Ama-me, uma última vez.
Sininho
Voltei hoje ao teu último post, que não me canso de reler. Estava na esperança de encontrar nova prosa, mas de facto depois deste teu último post deve ser difícil encontrar logo mais inspiração, eu penso que seja difícil mas para ti, e pensando melhor as palavras fluem e tudo te sai naturalmente!
Li um texto que gostei imenso e vou aqui transcrever:
... Pedi asas à quimera, para fugir para longe, muito longe... E fugi, e voei, e fui deixando farrapos de alma por todo este mundo exótico fora (porque a alma se rasga e se dá quando se amam as pessoas e as coisas).
Um beijo
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