Friday, March 3

Revi no instante

- Que se passa afinal contigo? - quis saber, ignorando propositamente a pergunta.
- Acho-te diferente, que queres que te diga?
Mas se eu estava diferente, mais diferente estava ela. Porque tudo quanto havia nela começava a perder-se. Sobretudo o encanto e o sorriso, a alegria e a paixão.
- E tu? Não estás diferente?
- Preciso de espaço para reflectir.
- Então reflecte para aí.
//
- Acabaste de me ofender.
- E tu acabaste de me decepcionar.
Nessa breve discussão apercebi-me subitamente de que ela se propunha criar uma briga excepcional para legitimar a ruptura do namoro.
- Acho que estás a ser desonesta. Sabes bem, porque sempre te disse, que prefiro uma verdade impiedosa a uma mentira.
- Não sejas parvo.
Em muitos meses de relação, era a primeira vez que me insultava. E continuou.
Antes de acabar a frase estendi o braço, tapei-lhe a boca com a mão e gritei desesperado:
- Nem mais uma palavra, peço-te.
Lentamente, retirei a mão e, quando já virava costas, ela concluiu o discurso que lhe havia interrompido.
- Recuso-me a tomar nota dessa infâmia, porque agora já tenho a certeza que enlouqueceste.
E saí.



Agora já não te digo nada. Enfiei a capa da distância e fechei-me em silêncio, sem sequer saber o que se passa contigo, tu que me mandavas mensagens diárias. O que eu devia ter feito era envolver-me sem nunca desenvolver o que sentia por ti, e não pensar muito na vida.
Não procuro respostas, nem desculpas, nem explicações mas sobram-me palavras, e não tenho obrigação de as engolir.
Um dia destes um de nós vai ter pena da forma como tudo aconteceu, vai escrever uma carta, fazer um telefonema, mandar flores, ou um disco. Um de nós vai olhar para trás e ter saudades. Vai lembrar-se do corpo do outro, das noites em claro, dos presentes trocados, das viagens e de todas as revelações, de momentos que a memória arquivou numa gaveta que não és capaz de abrir.
Um de nós vai perceber como tudo isto é absurdo, e vai querer entender-se com o outro. Só que desta vez não serei eu...
Tens razão quando me dizes, mesmo sem dizeres nada, que todos temos o direito à nossa visão das coisas, que todos temos o direito à nossa razão. E a minha razão diz-me que ninguém merece isto, muito menos eu...
Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se num "souvenir" de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem inestimável, e uma sensação à qual nos apegamos. Faz parte de nós.
Guardo tudo em silêncio, enquanto imagino que fazes o mesmo, e que eu estou aí... invísivel, a povoar o teu sono, e a fazer-te sorrir quando caminhas pelas ruas e entras em lugares onde fomos felizes.

9 Teardrops:

Anonymous Anonymous said...

Continua em frente bjs bro

8:17 PM, March 03, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Venci a preguiça e arrependi-me!... de não a ter vencido antes...
Não gosto de graxa, muito menos de a dar ou recebr, mas não tenho culpa que escrevas assim, não gostas, não escrevesses... toma!

Tá óptimo, tá dito. Depois precisava de te epdir uma oipinião, não só mas também sobre o texto, e sobre um que escrevi no meu psuedo-em-conjunto-blog, o irrefutável, que não se já te falei ou não...

9:36 PM, March 03, 2006  
Anonymous Anonymous said...

"Enfiei a capa da distância e fechei-me em silêncio", perfeita imagem de quem se afasta "quietly". Descreves maravilhosamente o fim de qualquer relação que foi bonita, que alguém estragou sem ter chance nenhuma de emendar o que fez - sim, porque no amor é assim: quando se fere alguém, mesmo que depois haja arrependimento, nunca nada volta a ser igual, fica, como dizes, o "souvenir" das coisas bonitas que se viveram. Gostei imenso.

4:03 AM, March 04, 2006  
Blogger Catharina said...

A imagem serena de um afastamento "quietly", como referes, talvez seja a melhor opção quando o decorrer da cena não está a correr da melhor maneira ou de como previamos. Gostei muito das tuas palavras mas, no entanto não diria um fim.
A relação não podia ter sido mais bonita, mais apaixonante; o capitulo do mais memorável.. mas o decorrer do tempo trouxe-nos barreiras ou talvêz contradições de que eu (pessoalmente) não estava à espera. Incompativeis?Talvez tenhas razão quando dizes que "nada volta a ser igual" mas no que toca a um fim, a um desfecho, não me iludo. O arrependimento é sinal de ter olhado para tràs e que tudo, um dia, pode voltar a tornar...
Não gosto particularmente, daquela parte em que se fecham as cortinas
e se espera após mil e uma noites em digressão, a vinda do acontecimento.
Gosto, e gostaria, que embora as mudanças da vida e das pessoas, tudo aquilo com que me casei voltasse a ser igual ao primeiro dia em que notei que as sardas estavam a pelar.. Por causa daquele e tantos outros por-do-sol que iluminaram o meu amor por ti.

4:10 PM, March 04, 2006  
Anonymous Anonymous said...

At the end everything is ok... if it not ok it is not the end.

O que tu escreves é-me familiar... cada vez mais me apercebo como os sentimentos são universais, e ainda bem. O amor é aquele que inspira e tu, miuda, tas lá!
"O que eu devia ter feito era envolver-me sem nunca desenvolver o que sentia por ti" AMEI!
O final faz-nos ter estes remorsos... mas eles não nos trazem MAIS senão tristeza E SAUDADE... mas tb sabemos que o único medo que temos durante a relação é que ela termine. Contradições inexplicáveis mas é aí que reside a magia do amor!
Soube me bem ler esta história, Catarina, pois sei - que sei - exactamente do que falas... talvez pq tive de passar por um fim, mas life goes on.
E depois, quando formos velhinhAs, teremos uma biblioteca cheinha para abrir e sorrir... e chorar... e acreditar que vai tudo correr bem.
Os sentimentos ficam (o que por vezes é bom, por vezes é mau...) mas eles resistem ao tempo e às mudanças d humor... e às discussões, e àS palermices que se dizem e outras que acabam por não ser ditas.
Mas tudo há-de fazer sentido...
E não se tem de ter medo... se não formos nós a viver, ninguém o fará por nós.
E acredita... mudam-se os tempos mudam-se as vontades, mas a essencia permanece. Assim como aquilo que de mais precioso essa pessoa tem e actua em nós...
O mundo é um lugar de perguntas e não de respostas...
E mais não digo pq como te disse, o amor deixa-nos confusos e temos de dar tempo ao tempo...
Gostei e gosto de ti!

P.s: li isto num livro: "Sentiu que chegaria a velho com a casa arrumada. Sentiu ao mesmo tempo um aperto no coração ao dar-se conta da efémera passagem pelo mundo dos vivos, agoniava-o aperceber-see que um ser humano passava metade da vida a crescer desordenadamente e a outra metade a dar sentido aos disparates gastos nesse crescimento."

...Não lhe chamaria disparates :) !

5:07 PM, March 04, 2006  
Blogger Cho said...

amei. e no entanto sei ser horrivel amar a dor dos outros.. so te digo que estas em mim quando escreves as coisas nesse ardor, porque eu também me sinto assim. como tu?

5:16 PM, March 04, 2006  
Anonymous Anonymous said...

É nestas alturas que me assusto, tu dizes-t vai comentar e eu ainda nem o seker tinha lido e passei por tudo o que escreves-t a pouco, e para me destrair decidi vir ao computador e lembrei-me do que me tinhas dito "comenta o meu blog". Qual não é o meu espanto quando o primeiro texto é sobre coisas que acabei de sentir! So te posso comentar o seguinte: é mesmo assim!
Mas tenho a dizer que as pessoas são umas imbecis, cada vez acredito mais nisso, não sabem viver! É só confusões idiotas por coisas idiotas, não sabem dizer o que sentem e por vezes quem exprime demais lixa-se porque não é retribuida! Remato o meu coment com a seguinte frase:
A vida é bela demais e curta demais para não ser vivida apaixonadamente!É so o que eu tenho a dizer!
És fantástica e muito oportuna, LOL BJS GANDS!! =)

4:12 PM, March 05, 2006  
Anonymous Anonymous said...

Voltando
ao teu post, de que gostei especialmente: alguém deixou "cair" algo que
era muito bonito e precioso e,quando realizar que o fez, talvez procure
emendar - daí a minha frase "nada volta a ser igual", pensando num
recomeço e não num fim. O teu comentário está tão bem escrito como o
post,cheio de metáforas teatrais, muito imaginativas: "cena que não
corre bem, cortinas que se fecham na esperança de que se voltem a abrir
desta vez com uma cena espectacular. Mas atenção! mais uma vez te digo,
e agora em relação ao último parágrafo: nada volta a ser igual, mesmo
que assim o desejemos from the bottom of our hearts. Um beijo

5:19 AM, March 06, 2006  
Blogger s said...

passei para agradecer o teu comentário e tb dar uma espreitadinha. este texto achei particularmente interessante... passa aquela sensação desconfortável de história mal terminada... *

12:26 AM, March 08, 2006  

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