Sunday, October 30

The Truest Test is When We Cannot See

Como é que alguém pode ser morto no alvorecer da vida?
- E ouçam! Pois eu sou tal. Não me confundam, sobretudo! - como diria Nietzsche.
É fácil. Ao ser alvo da inquietação ingénua do nosso sorriso ao retribuinte
que, no entanto confrontamos ainda sem saber.
É assim tão dificil diferenciar a não distinção do "verdadeiro mundo" e o "mundo aparente" porra?
Ou da verdadeira pessoa da pessoa aparente...
A mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, com ela a própria humanidade
se tornou, até nos seus mais profundos instintos, mentirosa e falsa - até chegar à adoração
dos valores inversos àqueles com os quais não "estávamos" supostamente a contar (digo eu).
Mas com que tranquilidade estão todas as coisas à luz?
Com que liberdade se respira? Quando nos sentimos bem abaixo de nós...?
- E eu sabia. Sei; Ele não somente fala de outro modo, como é também de outro modo.
Como não haveria eu de estar grata a minha vida inteira?
- E eu chamo vida inteira, não só tendo 18 anos, como te dei tudo e nada de mais
pudesse dar... por enquanto. Falhei. Estou a falhar. Eu sei.
Ainda vivo e envelheço a pensar no erro que hei-de cometer quando permitir que
aquele mortal sem sombra dê o primeiro passo em direcção ao chocar dos vossos olhares
numa gota de fogo sem chama. E não digas que não. Não te contaries.
Ou melhor, não contraries os teus sentimentos, porque eu já vivi.
E digo-te uma coisa.: Os sentimentos não são de ferro; Nem tu, nem eles.
Doença da incredibilidade do seu ser, puro fanático da expressão... Os meus pensamentos
abundam circunstancialmente alternando-se com epigramas que pouca margem
deixam à confissão íntima.
Tinhas morrido em meros momentos, diga-se de passagem, e quando eu já te
estava a começar a esquecer, tu apareceste julgando que podias moldar o mundo.
Porreiro. É tão tipico... O entrar, preencher, fazer parte da vida de alguém, tão doloroso;
E o sair, o deitar fora, o desperdiçar de um estilhaço de remorso atrasado que por puros
momentos do passado não tivesse passado de uma discussão e que hoje em dia,
neste momento precisamente, é um inicio do adeus. Mas esse atraso não se recupera. -
E podes crer que sim.
Que a verdade, a ùnica via dessa transformação foste tu meu amor.
Os acontecimentos agem decisivamente. E, no entanto, nenhuma influência rastejante
atravessou o meu caminho. Nem sequer o aliciante astro dos céus, ou o vento do Norte me tocou.
E tu, meu bem mais precioso...
Tentando permanecer fiel à expressão livre, ao decalque da personalidade dominante ou à
inspiração deliberadamente provocada por alguns - como as modas importadas lá de fora -
Não o conseguiste distinguir essencialmente dos seus companheiros.
Eu gostava de ter a certeza que o "gostar" é um para sempre sem formulários,
e não uma coisa passageira. Não do meu ponto de vista, porque eu gosto sempre
- embora seja difícil - Mas nos outros, porque é que mudam constantemente
de sensibilidades e revelam mudança depois de um certo tempo confiado por alguém?
Em nenhum outro lugar se tem esta paixão em questões, da forma desta seriedade.
Meras imaginações; mentiras provenientes dos piores instintos da natureza, doentes
perniciosos no sentido mais profundo... Tu deste-lhe a volta. E ela ainda não sabe.
A ingénua... Pobre criança, alvo do sem querer gesto irónico da vida.
Logo agora, que tudo era perfeito.
Falta em mim qualquer traço doentio - juro-vos; mesmo nos tempos da mais grave
doença, nunca me tornei doentia; Só agora, com tais especulações que até podem
vir a ser falsas... Mas a vida tornou-se mais leve para mim. levíssima, quando
reclamava de mim o mais pesado. De mim, de ti.
E olha, já que chegaste até aqui, aprende com o Mestre Pessoa, com o tão sábio
Alberto Caeiro.:
(...)
"O essencial é saber ver
Saber ver sem estar a pensar
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa."
(...)

Chamam-lhes pessimistas quando o trágico supera qualquer outro tipo de contentamento.
Quantas vezes passeamos pelo som da cantiga que nos soa ao ouvido ou lembramos
de lembrar e ficamos à espera de uma justificação final para aquele desfecho em palavras
tão sábias; Já depois de ter ouvido outras 3 vezes a mesma música sem que se tratasse
de música ambiente.
Por exemplo, aquelas últimas 7 palavras escritas por Joni Mitchell quando finaliza o tão
doce e fascinante "Both Sides Now" acompanhado pela orquestra, citando.: "I really
don't know life at all"; ou aquele início originalmente soado pelos violinos que dão
entrada à tão certa melodia que os "Verve" recitam no meio de uma rua amável pelo
cheiro incondicional da honestidade humana.: "I can't change".
Tudo isto é um pedaço transbordante fresco de serenidade.
A minha fórmula para a grandeza do homem é não querer nada de outro, nem para diante,
nem para trás, nem em toda a eternidade. Não apenas suportar o necessário, e menos
ainda dissimulá-lo - todo o idealismo é uma mendicidade diante do necessário -,
mas amá-lo...
Não quero ser confundida - isso implica que eu própria não me confunda.
- Vão-me perguntar porque é que, propriamente, contei todas estas coisas pequenas e,
ao juizo tradicional, indiferentes: com isso prejudico-me a mim mesma.
Resposta.: Essas pequenas coisas - amar, julgar ser amado, desejo, inexperiência,
decisão, lealdade, clima, lugar e eternidade - são, para além de todos os conceitos
mais importantes do que tudo a que se deu importância até agora.
Aqui precisamente é preciso começar a reaprender.
- E por isso me conto minha vida.

4 Teardrops:

Blogger vxcvxvc said...

Escrita bastante hermética. De difícil penetração. Mas assim que se entra, muito bonita, mesmo. Gostei mesmo do texto (apesar da quantidade de mensagens que só algumas pessoas mais próximas o consieguirão decifrar). Escreves, simultaneamente com simplicidade e complexidade (não sei como, mas gostava de saber).
Gostei.

1:34 AM, November 01, 2005  
Blogger s said...

Tenho que reler. Não percebi... Talvez não deva...

7:42 PM, November 09, 2005  
Anonymous Anonymous said...

E deixei propositadamente para o fim o site do teu blog que eu considero ser dos melhores que tens escrito.
Ajudaste-me a perceber muito do que lá está escrito, pois quando o li pela primeira vez, muita coisa ficou obscura - foi preciso conversar contigo sobre ele para o entender no seu todo Eu queria percebê-lo na sua totalidade, pois acho belíssimas as ideias lá expressas, só para citar duas delas: "estava a começas a esquecer, e tu apareceste julgando que podias moldar o mundo... É tão típico". Que grande verdade, Catarina! E: "a minha fórmula para a grandeza do homem é não querer nada do outro..." Lindo! A isso se chama saber gostar. E, finalmente, a frase com que acabas "E por isso me conto minha vida", não falando no verso que citaste do nosso amigo Pessoa. Um beijo e muitos parabéns. É do melhor que escreveste. Claro, em minha opinião...
Beijos avó

7:39 PM, November 20, 2005  
Blogger Geest said...

striky... a atirar para o pesadão...
há, de facto, muitos aspectos que não dá para perceber sem estar contigo, sem explicações - por muito calma q a minha leitura tenha sido, às duas da manhã e com música muito calma de fundo.. q incluía os Verve, how ironic - mas, se todas as tuas ondas psicadélicas forem assim, entra em quantas puderes para eu poder surfar em textos assim.
lindo, kiddow. really.
parece que entraste uma dimensão paralela ao escrevê-lo (sendo que paralelo é um plano que só no infinito toca outro... um infinito assim tão distante?). valeu a pena, a trip.
muitas coisas, q essa cabeça a anda a matutar...
espero vir a ouvi-las, num futuro próximo.

4:08 PM, November 21, 2005  

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